Sobre a psicologia com idosos: o amor além da técnica
- Beatriz Jardim Psicóloga
- 18 de jan. de 2018
- 2 min de leitura
As vezes as pessoas me questionam sobre como é trabalhar com idosos, ou indagam que pra isso, é preciso ter muita paciência e que por isso admiram o meu trabalho. Eu me orgulho do meu trabalho sim, mas não por isso.
Me orgulho por tantas outras coisas, mas principalmente porque é um prazer estar com eles. É maravilhoso estar diante de pessoas que enfrentam diariamente as suas limitações e ainda por cima te arrancam sorrisos. Pessoas que enfrentam a dor, que se apegam na força que você tenta passar, mesmo que as vezes a fragilidade insista em falar mais alto. Pessoas que te olham nos olhos e confiam que você fará o melhor que puder por elas.
Pessoas que te abraçam e que te contam em meios as lágrimas os seus maiores segredos, arrependimentos, sofrimentos e que a partir disso tem a possibilidade de ressignificar toda uma vida. Pessoas que se alegram quando você chega por ter com quem conversar, por saber que tem com quem contar. Pessoas que se esquecem das coisas a todo momento, mas não se esquecem de demonstrar o afeto que sentem por você. Pessoas que te fazem passar pelas situações mais embaraçosas, mas que te mostram que a vida é feita dessas situações e que você pode encará-las com naturalidade, com um propósito.
Pessoas que te olham nos olhos, que te ensinam, que as vezes te deixam sem palavras, que te amam. Pra mim, o trabalho com idosos é preciso de bem mais que paciência, é preciso do olhar de que seremos um dia como eles e que vamos querer que alguém nos ouça, nos dê a mão. Vamos querer que alguém nos ensine coisas das quais não nos lembramos mais, as vezes coisas simples como juntar palavras, ou levar a comida até a boca. Vamos querer que alguém olhe para as nossas necessidades e dê importância a elas. E que acima de tudo, não nos puna por termos esquecido (pois gostaríamos de lembrar).
Vamos querer a humanização, o cuidado, mas acima de tudo, que aquele que está diante de nós, tenha prazer em estar. Costumo pensar que os idosos são como pérolas, pois passaram pela dor e tiraram aprendizados lindos dela, transformando as dores em um templo raro de histórias e de amor (e como eu amo ouvir essas histórias).
Cada um deles tem a sua subjetividade, o seu modo de ser. E todos tem algo a ensinar - até aqueles que não conseguem mais se comunicar verbalmente, aliás, principalmente esses, pois eles se comunicam com o olhar, e o olhar diz tudo aquilo que as palavras não dão conta de expressar.
Trabalhar com idosos é ver de perto um corpo limitado, muitas vezes um cognitivo comprometido, mas ver de perto um ser completo de luz, com uma história de vida que fez a diferença em muitas outras vidas e que hoje estão diante de você, para que vocês possam aproveitar dessa oportunidade e fazer a diferença, um na vida do outro, com o sentimento genuíno de que independente do que o passado trouxe e do que o futuro reservará, sempre há possibilidade para mudar o presente (ou a percepção que temos dele).
Finalizo dizendo que para trabalhar com idosos é preciso amor, o amor te motiva a desenvolver todo o resto.
Beatriz Jardim

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