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PAPO COM ESPECIALISTA: Participação no livro "9 meses, 3 histórias - Ler, educar e interagir&qu

  • Beatriz Jardim Psicóloga
  • 18 de ago. de 2017
  • 6 min de leitura

Participação no livro "9 meses, 3 histórias - Ler, educar e interagir" (Henrique Aparecido de Oliveira). Falando sobre a gravidez na adolescência, seus impactos emocionais e a experiência que tive com esse público. Obrigada pela oportunidade, Henrique. Foi um prazer! Confira a entrevista completa abaixo:

1. Nome completo?

Beatriz Jardim da Silva

2. Idade?

24 anos

3. Profissão?

Psicóloga CRP 06/129395

4. Experiências profissionais?

Atualmente é psicóloga responsável no Asilo João Kuhl Filho, na Vila Dignidade e no Espaço Viver – Casa de Assistência ao Idoso. Realiza atendimentos psicoterápicos na abordagem cognitivo-comportamental em Limeira e Araras. É uma das responsáveis pela Cogitare Psicoterapias, local onde atende clinicamente em Limeira. Endereço: Rua Boa Morte, nº 1162, Vila Paraíso. Faz parte da equipe de psicólogos do Instituto Attos Psicoterapia, Desenvolvimento e Estudos em Psicologia, localizado no endereço: Rua Candida Lacerda, 310 - Centro, Araras, onde também atende clinicamente. Realiza um trabalho voluntário no Dispensário Madre Teresa de Calcutá.

5. Como foi seu trabalho com adolescentes?

Tenho contato com adolescentes na clínica, quando chegam para psicoterapia e tive um contato maior em um dos estágios de saúde durante a faculdade, época em que realizei um grupo de apoio para adolescentes gestantes, chamado “De repente grávida”, em um PSF na cidade de Cordeirópolis. Nos dois contextos meu trabalho com adolescentes foi e tem sido satisfatório, pois é uma demanda pela qual tenho interesse e que assim como nas outras fases da vida, é necessário o apoio psicológico, principalmente para lidar melhor com as transformações ocasionadas pela idade, sejam elas físicas, psicológicas ou sociais. 6. Quais características as mães adolescentes tinham em comum? No grupo de apoio, as adolescentes tinham um padrão de crenças (ideais) e comportamentos considerados por mim e pelo grupo que realizou o trabalho como cultural. Sabe-se que, o ambiente influencia muito no desenvolvimento das crenças das pessoas, ou seja, no funcionamento do indivíduo. Quando eu cito o conceito “crença”, não faço referência as crenças religiosas, e sim aos princípios, a forma de pensar, de se perceber, de perceber o mundo a sua volta, bem como as perspectivas acerca do futuro. Portanto, uma das características que mais me marcou no grupo foi a de seguir modelos comportamentais vistos na cultura em que viviam. Foi possível ver o quanto esse comportamento fazia com que as adolescentes se percebessem como mulheres que estavam seguindo um padrão pré-estabelecido na comunidade em que estavam inseridas. A maioria delas tinha dificuldade em pensar no futuro, em se planejar e se direcionar para outras atividades além desta que estava imposta, de serem mães. Tinham a auto-estima rebaixada com relação a acreditar nos próprios sonhos, tendo eles como algo distante da realidade e por isso “impossíveis” de serem alcançados, portanto pouco diziam a respeito dos estudos e carreiras profissionais. Era notório o quanto elas sentiam-se incapazes de planejar algo além do que era proposto e comum na comunidade, e sentiam-se lesadas pela falta de oportunidades. Nesse grupo com que trabalhei, elas tinham dificuldades financeiras, falta de orientação profissional e de saúde, muitas vezes uma família desestruturada também emocionalmente e conflitos nas relações com o parceiro. Outra caraterística em comum é o fato que elas buscavam por apoio e informação nessa nova etapa da vida, porém algumas questões atravessavam a frequência delas nos encontros, como outras responsabilidades com a casa, dificuldades com a gravidez e outros impasses. Já no consultório o trabalho com adolescentes é um pouco diferente, por tratar-se de psicoterapia, são atendimentos individuais e o processo acaba sendo mais específico, sendo as queixas trazidas pelas clientes.

7. O que te mobilizou a realizar este trabalho?

Resolvi desenvolver este grupo de apoio pelo interesse pelo público adolescente e pelo crescente número de adolescentes grávidas, de forma geral e no bairro em que realizaríamos o trabalho, sendo esta uma demanda apresentada pela coordenação do PSF.

8. Quais as conclusões que você chegou?

Cheguei à conclusão que as pessoas, de forma geral, precisam de apoio. E em se tratando de adolescentes grávidas, ainda mais. Não apenas por se tratar de um período de dificuldades, mas investindo esse cuidado nas mães, estamos investindo cuidado a criança também. Nem sempre esse apoio existe dentro de casa e de certa forma elas se veem perdidas, sem saber direito o que fazer e como fazer. Porém, ainda que não exista, como a demanda vem aumentando, acredito que os profissionais devam que se mobilizar a realizar trabalhos que levem informação, apoio e orientação a população com relação ao tema.

9. Em seu entendimento porque as adolescentes não se protegem adequadamente para prevenir uma possível gravidez?

Especificamente com esse grupo, em seus próprios relatos percebi que embora elas saibam que existe a possibilidade de uma gravidez, elas acreditam que não vai acontecer com elas, e se acaso acontecer, a gravidez é considerada como algo “natural”, mesmo na adolescência, por conta da cultura. Por isso, muitas vezes não se previnem, mas existe também a pressão do parceiro, de que não é necessário usar camisinha, por não gostarem por exemplo, e para satisfazê-los e até mesmo se satisfazerem, elas acabam tendo comportamentos de risco como este de não se prevenir. Outro motivo é a confiança que tem no parceiro, tanto com relação a falsa expectativa de que ele consiga evitar a gravidez no ato sexual, quanto com relação as doenças, apostando na fidelidade. Cada uma dessas adolescentes apresentam questões muito pessoais, podemos citar alguns dos motivos, mas eles são diversos e são condizentes com a história de vida de cada uma delas, neste e em outro grupos.

10. Qual seria a melhor atitude dos pais ao descobrirem que sua filha adolescente esta gravida?

Assim como cada adolescente lida de uma forma com a descoberta da gravidez, os pais também vão lidar de uma forma bem subjetiva com relação a isso. Acredito que não exista uma melhor forma, existem formas. E essas dependem muito do contexto familiar, do vínculo, das condições, porém, uma atitude dos pais que com certeza auxilia a adolescente a vivenciar essa experiência de uma forma melhor é o apoio. A partir do momento em que se tem o apoio familiar, as coisas acabam se tornando mais fáceis e possíveis. Esse apoio pode ser dado de diversas formas, a depender do funcionamento dessa família.

11. Como os pais podem passar educação sexual para seus filhos? E quais os benefícios do ato?

Para conseguir falar sobre educação sexual é necessário que exista uma facilidade no diálogo com os filhos. Esse diálogo não se inicia na adolescência, com esse tema específico. O diálogo vai se tornando um facilitador na relação entre os pais e filhos desde a infância, e passa por essa fase da adolescência, e por esse tema, como por qualquer outro. Pode haver certo desconforto, insegurança, medo ou vergonha por parte dos pais, mas é algo que deve ser enfrentado, pensando que isso será benéfico para a vida dos filhos.

12. O ambiente social de onde a adolescente foi criada influencia no comportamento e, logo, numa possível gravidez?

Acredito que sim. Como foi dito anteriormente, o ambiente tem grande influência na aquisição dos pensamentos e comportamentos das pessoas. Portanto, se o ambiente for facilitador nesse aspecto, trazendo informações e orientações de uma forma satisfatória, a probabilidade da gravidez ocorrer nessa fase é menor. Porém, não está descartada. E também não deve ser encarado como algo negativo na vida daquela pessoa, a depender do funcionamento dela é possível conseguir mudar seu olhar a respeito disso, tornando essa uma experiência positiva. Existe um preconceito a respeito do assunto, generalizando a gravidez como algo que só atrapalha a vida dos adolescentes, o que não é verdade, cada caso é um caso. Existem mulheres que sonham em ter filhos e que se sentem realizadas com a gestação inclusive na adolescência, inclusive planejando e tornando essa experiência única e não menos importante do que se acontecesse em outra fase da sua vida, conseguindo conciliar essa responsabilidade com outras atividades, adquirindo mais maturidade, planejando o futuro, etc.

13. Por que mesmo com o avanço da tecnologia e facilidade de acesso às informações, muitas adolescentes não conhecem DSTs ou métodos contraceptivos?

Acredito que a educação do país investe pouco nesse aspecto. Esse assunto deveria ser mais discutido nas escolas do que é, e discutido com mais qualidade. Acredito que existe um déficit considerável em se tratando da educação e esse pode ser um dos motivos. Porém, acredito que muitas adolescentes conhecem sim os riscos e tem acesso aos métodos, mas por outros motivos, sejam eles pessoais, do relacionamento ou até mesmo situacionais, que já foram citados anteriormente, acabam colocando em risco a sua saúde, por conta das DSTs, ou aumentando a probabilidade de engravidar.

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Dra.

Amanda Soares

CRP 06/97888

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